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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Kleber e o Benfica

Não me convence a tese de que o Benfica está a intrometer-se na corrida para contratar o jogador Kleber, que o Atlético Mineiro emprestou ao Marítimo, e que tem feito correr muita tinta no sempre turvo futebol nacional. Em primeiro lugar, porque olhando ao plantel do Benfica não faz sentido contratar mais avançados, ainda para mais jogadores que tendo ou não muito potencial, ainda não provaram nada. O Benfica tem Cardozo, Saviola, Jara, Kardec, Nelson Oliveira e Rodrigo, já contando que no final da época tanto Nuno Gomes como Weldon devem sair. Portanto, tendo 6 avançados de qualidade sob contrato, seria aberrante avançar para mais outro!

Tenho acompanhado no entanto com perplexidade os mais diversos desenvolvimentos desta história toda. Começa com um Verão especialmente conturbado, com o Porto a pressionar o Marítimo e o jogador para que o Marítimo não accionasse a sua opção de compra e forçando o Atlético Mineiro a vendê-lo no imediato aos azuis e brancos. O caso fez correr muita tinta, até porque determinadas formas de pressão são puníveis pelos regulamentos, quer nacionais quer internacionais. Claro que dificilmente será à luz dos regulamentos nacionais que o bastião da corrupção no futebol será punido.

Entretanto os desenvolvimentos tornaram-se muito mais engraçados no final de 2010, e continuam a prometer agora em 2011. O Porto falhou claramente na alternativa que arranjou a Kleber - o também brasileiro Walter, que entre problemas disciplinares e uma aparente inadaptação se vai mantendo à margem das opções do Picareta Falante que treina os azuis. E parece hoje claro que o Porto terá já convencido o jogador a mudar-se para a cidade invicta, usando isso para fazer ver ao Marítimo que talvez seja melhor desistir deste assunto.

Mas alguma inabilidade, ou direi antes falta de vergonha, acabaram por fazer saltar a tampa a Carlos Pereira, presidente do Marítimo e que avança para uma cruzada pouco vista no futebol nacional com o apoio inequívoco mas escondido de Alberto João Jardim, o presidente do Governo Regional da Madeira, que é por sua vez um dos accionistas da SAD maritimista.

O Sporting ajudou, penso que de forma totalmente involuntária, a por a nu mais um pormenor sórdido deste caso. Vendendo Liedson já a queimar o fecho da janela de transferências, endereçou ao Atlético Mineiro uma proposta para comprar Kleber, dela avisando o Marítimo, que apesar de não deter o passe é uma óbvia parte interessada - afinal de contas, o jogador está ao serviço dos insulares! Ora aqui entra uma das grandes polémicas desta história!

O presidente do Atlético Mineiro veio a terreiro dizer que a proposta do Sporting era ridícula quando comparada com a do Porto, e que por isso a tinha recusado. Ora o Marítimo divulgou os documentos com as propostas dos dois clubes, e feitas as contas à taxa de câmbio em vigor na altura de cada uma das propostas, o cenário é o seguinte:

  • Proposta do Porto feita em 24 de Junho de 2010, no valor de 2.300.000€, ou seja 5,05 milhões de reais brasileiros
  • Proposta do Sporting feita em 30 de Janeiro de 2011, no valor de 2.530.000€, ou seja cerca de 5,8 milhões de reais brasileiros.
Tanto num caso como no outro, a forma e prazos de pagamento são semelhantes, e referem-se também à mesma percentagem do passe (50%). Ora se em Euros já é fácil de constatar que a proposta do Sporting nunca poderia pelo menos ser considerada ridícula (porque mais alta no país de onde é originária), fazendo a conta aos câmbios (1EUR = 2,19 reais a 24 de Junho de 2010, e 1EUR=2,29 reais a 30 de Janeiro de 2011) a diferença é ainda maior... quase 800 mil reais de diferença, com vantagem para o Sporting! Proposta ridícula quando comparada com a do Porto? Como disse e bem Carlos Pereira, só se houver vantagens não declaradas a passar por baixo da mesa para que o presidente do Atlético Mineiro possa dizer uma coisa destas.

Outra delícia da história é o facto do Marítimo ter opção de compra definida no contrato de empréstimo, e a mesma não ser atendida pelo Atlético Mineiro, numa claríssima e grave infracção legal.

Onde entra então o Benfica neste imbróglio, se parece certo que o Benfica não está interessado no jogador?
A mim parece-me óbvio. O Benfica procura desta forma incomodar o seu maior rival aproveitando um caso que de facto os pode encostar à parede, pois as infracções são de várias ordens e de vários clubes. O Porto actuou à margem dos regulamentos no Verão, embora a comissão disciplinar desta isentíssima Liga de Clubes tenha feito orelhas moucas a tais situações. O presidente do Atlético Mineiro está sempre nervoso quando fala do jogador, e já chegou ao ponto de se espalhar publicamente e com estrondo como já comprovei atrás.

A reunião entre Paulo Gonçalves e o advogado do Marítimo, com ou sem a presença da directora executiva da Liga, não serviu só para preparar o regime de contratação colectiva no futebol, como é evidente. Este tipo de trabalho regular para a Liga de Clubes vai sendo desenvolvido no dia-a-dia com o auxílio de outros meios, e embora possa ter havido a necessidade de uma reunião presencial, existe outra coisa não explicada... o que fazia o presidente do Marítimo nesse mesmo hotel, não estando a equipa em Lisboa e não sendo ele parte da construção regulamentar que estava a ser levada a cabo?

Como se sabe, há um ano o Porto prometeu ao Governo Regional da Madeira que ia promover um amigável cujas receitas revertiam a favor das vítimas do temporal que assolou a ilha. Um ano depois, nem projecto de tal jogo, o que tem deixado Alberto João Jardim bastante "contente" com a atitude. Por outro lado, Luís Filipe Vieira é amigo pessoal e parceiro de negócios do presidente do Atlético Mineiro, que tem sido um dos vilões da história. Já chegaram lá?

Muito se tem falado de há meses para cá da cedência do Benfica ao Marítimo de um ou mais jogadores por empréstimo. Um eventual desbloqueio desta situação, que tivesse como bónus deixar a ferver a SAD do Porto, poderia bem aproximar o Marítimo ao ponto a que o Benfica deseja. Não só para colocar jogadores, como para começar a criar uma plataforma de clubes "fiéis" ao Benfica e que se interessem por alterar o status-quo vigente na Liga. Até porque, segundo os mentideros, já nem sequer Domingos Soares de Oliveira vai à bola com Fernando Gomes, ele que foi o principal impulsionador do apoio benfiquista a esta direcção da Liga.

A famosa fonte que comunicou a um comentador da RTPN a tal reunião entre os elementos benfiquista e maritimista no Altis, saberá certamente os propósitos da informação que cedeu. Terão o Benfica e o Marítimo sido apanhados em flagrante, ou terá sido uma espécie de very-light lançado em alto mar para que uma parte interessada se enerve com a tempestade?

Para onde irá Kleber no Verão?

3 comentários:

Boas,

Caríssimo, excelente post com uma excelente explicação. 5 Estrelas.

Já venho a acompanhar este blog há uns bons tempos mas só hoje decidi comentar porque de facto visto isto desta forma fico a pensar que muita gente que acha que no Benfica só estão gajos que não pescam nada e que só fazem mediante os seus interesses, aqui fica bem explicado que não é bem assim, tudo é pensado.

Cumprimentos
João Rei

Muito bom texto. Explica muitas coisas.
Abraço Benfiquista

Excelente texto, como sempre. Os factos são explicados com toda a lógica. O caso parece bastante complexo, envolve várias pessoas, e se tudo isto foi sendo preparado para "tramar" o Porto, tiro o meu chapéu. Si vis pacem, para bellum. Vamos ver é se tudo não acaba como de costume: a dar em nada.

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