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quinta-feira, 4 de março de 2010

As despromoções na secretaria

Começa a ser um tema corriqueiro, tão corriqueiro que já há muito que não serve sequer para fazer a primeira página dos três jornais desportivos diários que coexistem no pequeno mercado nacional. As notícias de salários em atraso, dívidas ao fisco, faltas de cumprimento de contratos tornaram-se normais num futebol português que há anos vive acima das suas possibilidades, e que vem rejeitando as soluções frontais que se impunham para debelar todos estes problemas.

A Liga continua a ter uma dificuldade extraordinária em albergar processos claros no que toca ao controlo e fiscalização das inscrições dos clubes para participarem nas duas ligas profissionais portuguesas. Este ano está a ser marcado pelo caso da Naval, inscrita com documentos que erradamente comprovavam que a Naval à data estava com cadastro limpo perante o Estado, o que na realidade não sucedia. Erro propositado ou fraude que fugia ao controlo da própria Naval, isso ainda estará por apurar nesta altura, apesar da Liga já ir a entrar na 22ª jornada. Mas mais grave que isso, choca a falta de preparação que os regulamentos têm para precaver estas situações de impasse enquanto não se descobre toda a verdade.

A Naval entretanto saldou as suas dívidas, o que evidentemente não apaga o incumprimento grosseiro dos regulamentos nos prazos exigidos para a inscrição do clube. Mas os regulamentos prevêem apenas sanções para casos demasiado abstractos para poderem objectivamente ser definidos no terreno. Despromoção ou desclassificação? Qual o peso exacto da atenuante de entretanto as dívidas terem sido saldadas? Nada disto está esclarecido preto no branco, e com isso abre-se uma janela de oportunidade maior do que é recomendável para a livre interpretação de quem decide.

Entretanto estamos quase no final do campeonato, e não há indicações sobre se será desclassificada, despromovida ou se haverão ainda soluções disciplinares mais brandas para este caso. Entretanto um outro caso desponta, o do Setúbal. Uma dívida superior a 1 milhão de Euros bateu à porta, e conhecendo-se o estado lastimável das finanças do clube, é mais do que razoável pensar que o clube não terá condições para, na próxima época, cumprir com os requisitos financeiros estipulados para a participação nas provas nacionais.

O imbróglio é tanto maior quanto menos é possível fazer directas associações entre os vários cenários possíveis de incumprimento (se foi culpa da Naval, se a Naval também foi vítima, etc), e as várias penas previstas para as diferentes situações. Tudo bem que pode ser demorado concluir de que lado está a verdadeira culpa do lamentável episódio, mas se nem há consenso regulamentar sobre as penas a aplicar a cada uma das hipóteses de infracção que estão em cima da mesa, como esperam de uma vez por todas por ordem no futebol em Portugal?

De qualquer forma, desde o aparecimento da Liga Profissional, a culpa é exclusivamente dos clubes que, imersos nos seus corporativismos e gangs de inimizades, tardam em se reunir à mesma mesa para defenderem acima de qualquer outra coisa o futebol. E enquanto assim for, os regulamentos continuarão a ser o que são, as decisões continuarão a arrastar-se, e a competitividade do futebol em Portugal continuará a estar posta em causa.

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